Depois de duas semanas internado em um hospital em São Paulo devido a um quadro de insuficiência cardíaca, o apresentador Fausto Silva anunciou que vai precisar de um transplante de coração. A Bahia não realiza o procedimento desde janeiro do ano passado e pacientes que precisam ser transplantados são transferidos para outros estados. Hoje, 58 pacientes aguardam para realizar o procedimento fora de casa. Entre 2010 e 2022, apenas quatro transplantes cardíacos foram feitos em território baiano.
O transplante é como a ponta do iceberg no tratamento de doenças cardíacas. Ou seja, o recurso final para manter um paciente vivo e saudável. A última cirurgia desse tipo foi feita na Bahia em 18 de janeiro de 2022, no Hospital Ana Nery. Desde então, todos aqueles que precisam receber um novo coração são colocados em listas de espera de outros estados. A falta de recursos financeiros e a prioridade para a realização de outras cirurgias, que não o transplante, justificam a suspensão do serviço, de acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).
O histórico do estado na realização do procedimento é marcado por idas e vindas. Entre 2009 e 2014 nenhum transplante de coração foi feito na Bahia. Apenas em 2015, quando o Hospital Ana Nery (HAN) passou por uma reestruturação, a cirurgia foi realizada, em novembro. Os dois procedimentos seguintes só aconteceram três anos depois, em 2018. Até que em janeiro do ano passado, uma mulher que passou duas semanas sobrevivendo com o auxílio de máquinas que bombeiam o sangue foi a última paciente a passar pela cirurgia.
A previsão é de que o HAN volte a realizar o procedimento em outubro deste ano. Até que isso aconteça, pacientes precisam se afastar de familiares e amigos para enfrentar a espera por um coração em uma cidade distante, além de correr mais riscos diante da necessidade de transporte. O tempo médio de espera para a realização da cirurgia é de 6 meses a 1 ano.
“O transplante é a linha final de tratamento para os pacientes que têm insuficiência cardíaca. A transferência desses pacientes é de alto risco e envolve transporte aéreo”, explica o cardiologista Luiz Ritt, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia Regional Bahia e professor da Escola Bahiana de Medicina. Em cerca de um ano e meio, o especialista participou do tratamento de ao menos quatro pacientes que precisaram ser transferidos.
Há um ano, a vida de Walker Roberto Pionorio Teixeira, de 56 anos, virou de cabeça para baixo. Depois de sentir falta de ar durante um almoço, o consultor de empresas foi internado às pressas e recebeu a notícia mais difícil e improvável que poderia ter. Os médicos lhe deram quatro dias de vida. Com um quadro grave de insuficiência cardíaca, ele precisava passar por um transplante de coração o mais rápido possível e foi transferido para hospital em Brasília.
Durante os 7 meses em que esperou um órgão compatível geneticamente, Walker Roberto enfrentou momentos de solidão e desesperança. Viu de perto a morte de 12 colegas de internamento que esperavam uma doação e sonhou incontáveis com a sua própria morte. “Enquanto eu estava em Salvador, todo dia tinha um familiar comigo. Em Brasília, às vezes eu passava a semana toda só com o acompanhamento do pessoal do hospital. É muito triste ficar aguardando na UTI e ver os óbitos de outras pessoas”, relembra.
Em fevereiro deste ano, depois de muita espera e vivendo graças a tratamentos que realizavam a função do coração, Walker Roberto recebeu a doação de um órgão compatível e a cirurgia foi um sucesso. Depois de um mês, ele recebeu alta e voltou para a capital baiana. “Hoje eu tenho 56 anos com um coração de 28. O doador era um ciclista que foi atropelado por um caminhão e a única coisa que deu para salvar foi o coração”, revela.
Segundo o cardiologista Luiz Ritt, um paciente com insuficiência cardíaca terminal tem chance de mortalidade de mais de 50% em um ano. “Já quando é transplantado, o paciente tem vida média de dez anos, sendo que pode passar pelo procedimento novamente”, ressalta.
Fonte: Jornal Correio